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Clubes e atletas discordam do parecer do Ministério da Saúde sobre volta do futebol

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|  Foto: Maracanã receberá as partidas de Flamengo e Fluminense na última rodada do Brasileiro (Foto: Divulgação)
O primeiro passo para a volta do futebol é garantir a não propagação em massa do coronavírus. Foto: Divulgação

Essa história de Covid-19 e isolamento social pegou todo mundo desprevenido. Quem é que se acostumaria a ficar quase 100% do tempo em casa? E isso inclui os atletas. A necessidade de interromper as atividades que geram aglomerações certamente inclui o futebol. O “parar” já está na cabeça de (quase) todos, a dúvida agora é sobre quando voltar. É claro que eu estou com saudades de ver meu time, e, é claro que você também está. E acredito também que os atletas estão querendo retornar aos gramados, mas a dificuldade em chegar num consenso de quando isso será possível, ou pior, a tentativa de prever algo sem qualquer vislumbre de quando isso vai acabar é praticamente ter a certeza do fracasso.

O primeiro passo para a volta do futebol é garantir a não propagação em massa do coronavírus. E essa “garantia” não existe no momento. Ainda assim, o Ministério da Saúde se mostrou favorável à volta aos gramados. E é aqui que entra o problema, na verdade, entra a estranheza.

Segundo o parecer assinado pelo Ministro Nelson Teich, “o futebol é uma atividade esportiva relevante no contexto brasileiro e que sua retomada pode contribuir para as medidas de redução do deslocamento social através da teletransmissão dos jogos para domicílio". No entanto, “Cabe ressaltar que no momento, a disponibilização de testes rápidos no sistema de saúde encontra-se saturada diante das necessidades da população brasileira... Diante da afirmação acima, na proposta apresentada, não fica evidenciado onde serão realizados os testes, periodicidade e critérios de retestagem, e como serão assistidos caso o diagnóstico dos atletas seja positivo."

Ou seja, sabendo de como o Brasil está em curva ascendente do número de casos confirmados de pessoas infectadas e mortas, não há como garantir testes para todos e nem em grande quantidade, afinal, não sabemos se os testes serão feitos após todos jogos, se será para todo elenco ou apenas os que jogaram... Mais do que nunca, fica a dúvida do que motivou o Ministério da Saúde a ser favorável ao retorno da bola pelas quatro linhas, pois não parece fazer sentido diante de um cenário tão caótico.
Portanto, a falta de garantia faz com que a maioria dos atletas e dos clubes se manifestem contrários a esse documento. Na verdade, não é ser contrário a esse documento, mas é não ver como fazer o que é necessário para que todos estejam seguros ao retornarem ao exercício de suas profissões.

Diante desse cenário, o vice-presidente geral do Fluminense, Dr. Celso Barros, pediatra e ex-presidente da Unimed Rio, se mostrou totalmente contrário a essa “sugestão”. Segundo ele, “Falando especificamente do Fluminense, seria acomodar no Centro de Treinamento aproximadamente algo em torno de cinquenta pessoas por treinamento. Além disso, todos esses profissionais têm familiares, o que poderia aumentar o risco de contágio para todo este grupo”.

Para os jogadores, só será possível a volta do futebol em condições seguras. Mas, há outro problema em questão. Além da falta de segurança já citada ao longo desse texto, os atletas se manifestaram completamente contrários a um projeto de lei de autoria do deputado federal Arthur Oliveira (DEM-BA). Segundo este, os clubes teriam uma série de benefícios como a redução de 50% da cláusula indenizatória em casos de rescisão dos contratos. Para os atletas, essa medida é absurda, pois “A maioria só trabalha três vezes por ano. 95% de nós recebemos menos do que dois salários mínimos”, como diz o comunicado. Afinal, olhar para jogadores consagrados de Flamengo, Palmeiras, Corinthians, Inter, entre outros clubes de grande apelo no Brasil é fácil. O que fazer com o atleta do Bangu, do Boavista, do Resende e de outros times pequenos, que têm seus contratos assinados com data de validade para o fim do Cariocão?

Bom, a certeza é que a volta do futebol irá demorar. Mesmo que alguns times já estejam se movimentando para voltar a treinar, como é o caso do Inter e do Flamengo, não teremos partidas tão cedo. Por outro lado, declarações como a do Presidente Jair Bolsonaro, “Se depender do meu voto, eu aprovo. Logicamente, com parecer técnico do Ministério da Saúde. Que acho que será favorável. Começar a realizar os treinamentos. Começar, em um primeiro momento, com portões fechados (...).”, fomentam a ânsia pela volta dos campeonatos, mas deixa no ar a dúvida sobre fazer isso de maneira segura ou apenas “voltar devido a saudade”. De todo modo, você ficará antenado aqui sobre todas as novidades que cercam o futebol e o impacto causado pelo Coronavírus. Abaixo, você confere, na íntegra, o comunicado feito por jogadores contrários ao Projeto de Lei já citado nesse texto.

“Brasil, é hora de união de todos. Somos um povo, uma nação, temos diferentes realidades na nossa classe. A maioria só trabalha três meses por ano. 95% de nós recebemos menos do que dois salários mínimos. Mudar as leis sem ouvir a gente? Isso não é legal. Estamos aqui e precisamos ser ouvidos com atenção. Afinal de contas, somos uma democracia. O povo brasileiro ama e quer o futebol de volta, nós também amamos e queremos voltar. Nossas famílias precisam de nós. Somos todos pelo trabalho, mas precisamos pensar na saúde de todos nós. Trabalho seguro, grandeza da nação. Com fé, venceremos essa partida juntos!”.

Participaram deste comunicado: Diego e Everton Ribeiro (Flamengo), Fernando Prass (Ceará), Alecsandro (CSA), Leandro Castan (Vasco), Fernando Henrique (Santo André), Réver e Victor (Atlético-MG), Nenê e Hudson (Fluminense), Bruno Alves (São Paulo), Marinho (Santos), Léo e Fabio (Cruzeiro) e Felipe Melo (Palmeiras).

Filipe Vianna - É um apaixonado por análises táticas e coberturas esportivas. Ele fala sobre futebol e o mundo dos esportes.

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